segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

MATSUURA SEIZAN (1760-1841)



                     Matsuura Seizan é o autor de muitas obras sobre a esgrima e graças a elas deve a sua notoriedade. Com a idade de vinte seis anos alcançou o mais alto grau na escola que freqüentava. Esta escola, que continuou até o ano de 1908, chamava-se “Shin kei to Ryu”, (shin = espírito; kei = forma ou técnica; to = espada; ryu = escola). Seizan interpreta esse nome dizendo que o espírito é muito importante para o progresso na esgrima, mas que se começa a formar o espírito durante a aquisição das técnicas.
                        Da época de Musashi os tempos mudaram e os combates até a morte com a espada são menos freqüentes. De fato, vive-se naquela época em um período de paz feudal. A prática da esgrima é regularizada e faz parte da vida dos bushi (guerreiros). O treinamento de combate nos DOJÔ assumiu uma grande importância. É praticado com espadas de madeiras, e com o tempo, com espadas de bambu (shinai) e com proteções especiais que permitem de golpear mais livremente para o progresso da técnica.
                     Nos seus escritos Seizan diz: Quando se golpeia é melhor ter o espírito do vazio, não olhar a espada do adversário. Deve afastar todas as preocupações, como se confiasse na potência de um deus; então não se deve nem sentir que se golpeia pelo próprio movimento. Quem não acredita nas palavras do mestre nunca alcançará o último estágio. Mas, também quem acredita demais no mestre que diz que com a técnica você será invencível, também nunca alcançará. É necessário reflexão.
                     Na esgrima, existem técnicas em que você pode vencer pelo efeito surpresa. Mas, isso acontece porque o adversário não conhece suficientemente bem as técnicas da esgrima. De fato, os movimentos dos membros do corpo são mais ou menos sempre os mesmos, não existem movimentos que não se possam prever. Por esse motivo, conhecendo bem esta regra, se estuda minuciosamente os gestos do adversário e se consegue prever, sejam as técnicas ordinárias e também as técnicas secretas. Mas, deve-se com reflexão, adestrar-se o mais possível no combate. Esse é o meio para descobrir as regras. Nesse caso, o combate não é um combate até a morte, mas sim do combate de Dojô para melhorar a sua perícia.
                        Geralmente, pensa-se que o momento mais importante é quando se começa a duelar. Mas, isso é só um detalhe. O que é mais importante acontece antes que a espada seja extraída da bainha; antes que se troque um golpe. Não existem derrotas que possam surpreender quando se combate com negligência e cometendo erros técnicos, pois pode estar certo que a derrota será assegurada.
                        Na vida real, o que é feito não pode ser repetido. Por exemplo, no teatro antes de se apresentar, ensaia-se até que não se cometa nenhum erro. Então, é estúpido pensar que seja suficiente treinar bem no Dojô, uma vez que O Dojô é como o palco de um teatro, mas não como a vida real, pois, na vida real  não é possível repetir um gesto errado. Mesmo ganhando um combate e tendo recebido elogios não se deve convencer-se de que a sua técnica seja superior. Segundo o espírito da escola de Seizan, a vitória momentânea não é a vitória da vida. Mesmo que se tenha vencido um adversário, isto não quer dizer que o tenha vencido para sempre.

CONCLUSÃO DO AUTOR DO “LO ZEN E LA VIA DEL KARATE”
KENJI TOKITSU.

Os aspectos característicos da técnica da esgrima em cada um destes autores (samurai) refletem também a época em que eles viveram. Cada um deles colocou mais pontos relativos a teoria ou talvez na lógica da esgrima, pontos relativamente difíceis de evidenciar, pois estão impregnados da moral e da ideologia. De fato, para estes autores a arte da esgrima é intimamente ligada aos valores religiosos, éticos e sociais. Mas, entre todos eles existe um ponto comum, o destaque espiritual ou de “vazio”. E, devemos sublinhar que o destaque espiritual para eles não é um fim em si mesmo. Está na base do domínio da eficiência da espada; se trata de um estado espiritual como ponto de partida em que se tornaram capazes de reagir em modo oportuno em qualquer circunstância.   
 


Próxima postagem “Métodos de ensino e técnicas de treinamento na aprendizagem do karate” elaborado pelo Aldo Lubes Sen-sei.    

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

ITSUSAI CHOZANSHI


                             ITSUSAI CHOZANSHI

Niwa Jurozaemon, mestre de esgrima, também conhecido sob o apelido de Itsusai Chozanshi ( 1659-1741). Ele escreveu um livro “Tengu geijutsu ron” ( Perguntas ao deus das artes marciais), Tengu é uma divindade dos cabelos vermelhos e com nariz comprido, muitas vezes representado nas esculturas japonesas, é e, considerado o especialista nas artes marciais.
 O livro refere-se as perguntas de um jovem samurai e as respostas de Tengu.

Pergunta: Como fazer para melhorar a minha habilidade?

Resposta : Paralelamente ao progresso da técnica, o corpo e o espírito devem se fundir em uma única entidade. Depois apareceram as razões contidas nas técnicas. Quando a técnica for perfeitamente assimilada, a técnica e as razões formarão uma única entidade, o espírito se torna estável e se movimenta livremente. Este é o sistema de aprendizado das artes marciais. Por isso, o progresso no Budo, o adestramento é a coisa mais importante. Sem o amadurecimento das técnicas, não terá unificação do espírito e do corpo. Se o espírito e o corpo não se unem, os gestos serão separados e não se pode reagir com naturalidade.

Pergunta: Dizem que alguns grandes mestres de esgrima alcançaram o mais alto nível depois que encontraram um monge zen. Porque?

Resposta: O monge zen não mostrou o ultimo estagio da espada. Quando o espírito está vazio,é possível reagir de forma oportuna ao que vai acontecer. De contrario, se apegar demais a vida fica-se atormentado, cai-se na angustia e nas preocupações, e isso coloca em perigo a vida. Aqueles mestres se adestraram sem pausa na esgrima por anos a fio, sacrificando até as horas de descanso, forjaram o próprio espírito, aprimoram as próprias técnicas engajaram muitos combates, se esforçaram por diversos anos, mas não encontraram o estado de Satori ( REVELAÇÃO). Então, quando encontraram um monge zen que explicava as razões da vida e da morte, entenderam que todos os fenômenos não são nada mais que o reflexo dos movimentos do espírito. Daí para frente, os problemas deles sumiram, eles alcançaram a estabilidade do espírito na separação de tudo e chegaram a servir-se das técnicas com grande desenvoltura, por que no curso dos anos de treinamento tinham alcançado a necessária formação. Não chegaram a este estagio de repente. Aqueles que não possuem o fundamento das artes marciais não chegarão nunca ao estado de SATORI, mesmo encontrando um grandíssimo mestre zen.

Pergunta: Tenho muitos alunos jovens, como deve ser ensinada a arte da esgrima a eles?

Resposta: Aos jovens que ainda não tem a capacidade de entender as razões, antes de tudo deve se ensinar as técnicas de desenvolvimento do corpo necessárias as suas idades, sem muitas explicações. É necessário que desenvolvam a solidez dos membros. Depois habitua-los a um treinamento espiritual, com a finalidade de preparar-los ao aprendizado do ultimo estagio. Este é o processo do adestramento. Se desde o começo, sem que tenham adquirido uma técnica segura, se ensina que o espírito do vazio faz surgir naturalmente as técnicas ou que a flexibilidade domina a rigidez e a força, ou que o aprendizado das técnicas não é fundamental, eles perderão o sentido da vida e não aprenderão nem as técnicas corpóreas e nem as técnicas mentais.

Pergunta: O que quer dizer a imobilidade em movimento, e a calma sem calma?

Resposta: O homem é fundamentalmente ativo, e não pode ficar imóvel. Na vida social, os movimentos são diversos, mas aqueles que seguiram o DÔ (Caminho) e dela se desprenderam, podem manter o espírito calmo sem ser perturbados pelo ambiente. Por exemplo, se circundado por muitos inimigos e ocupado no combate a esquerda e a direita, se afasta o espírito da salvar o corpo, o espírito será estável e não vai ser influenciado pelos inimigos. Este estado é chamado da imobilidade em movimento.

Calma sem calma, quando o espírito de um homem não é influenciado por sentimentos de prazer, ira, tristeza, ou alegria, o espírito deste homem está vazio desprendido de tudo. Neste estado, ele pode reagir livremente a qualquer mudança externa.
Por isso a calma sem a calma refere-se junto com o essencial e os atos. Na frente de um adversário, o espírito é calmo como um precipício profundo, sem ódio, nem medo e sem tática, mas quando o adversário ataca, se consegue reagir muito livremente. O corpo se move, mas o espírito não perde a calma essencial, como um espelho calmo e claro em que tudo se reflete, sem que porém  fique alguma imagem quando tudo some. Assim é a força estranha do essencial do espírito. Ao contrario, um homem medíocre perde o seu verdadeiro espírito quando se move, pois será arrastado pelos seus sentimentos, e quando acalmar perderá a sua vitalidade e não será capaz de reagir as mudanças do ambiente que o circunda.

Pergunta: Não entendo a interpretação do zan-shin (permanecer-o espírito), fornecida por muitas escolas.

Resposta: Quer dizer que através das técnicas treinadas não se movimenta o essencial do espírito. Se, si tem a essência do espírito sólido e firme, se pode reagir sem erros ao que acontece. O mesmo se deve dizer da vida.  Se você dá um golpe de espada com a intenção de chegar no fundo do inferno, o Eu não muda, então você pode se mexer para frente para trás, a direita ou a esquerda com plena liberdade, o espírito não é arrastado da vontade. A justa decisão vem do espírito, e suficiente reagir seguindo-o, é difícil explicar essas palavras, e é perigoso não entender bem.

Pergunta: Se entendo bem, a técnica do katana é ditada pelo espírito, mas porque existem técnicas secretas?

Resposta: A razão da espada é a razão universal. Se eu tenho condições de entender, porque não deveriam entende-las  todos? Se faz segredo para os principiantes. Os principiantes não manteriam firmeza na própria vontade se não existissem segredos. O segredo é um meio para se fazer entender melhor. A técnica segreda então, nada mais é que um detalhe parcial das técnicas, não consiste no essencial delas. É ruim que o principiante, que não tem capacidade de apreciá-las, entenda mal algumas técnicas e também e mal que as transmita. Por isso, então, algumas técnicas são ensinadas somente a aqueles que as entenderam. Mas quanto ao essencial, deve falar abertamente para todos, sem esconder nada. 


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ito Ittosai

Ito Ittosai – parte 2.

A propósito do treinamento, ao fim que a tática não preceda a técnica é necessário manter o espírito vazio sem deixar lugar a pensamentos inúteis, como a lua que se reflete na água, somente assim consegue-se reagir em qualquer circunstância. Como a água não tem forma rígida, mas assume a forma de um recipiente, redondo ou quadrado, ou de qualquer outro tipo de recipiente, assim o treinamento não deve se plasmar em uma forma rígida e os movimentos da espada devem preceder as posturas do corpo. O caminho da espada consiste simplesmente em vencer com a espada, por isto que a espada compreende as técnicas, que estão fundamentadas sobre as razões. O espírito é o fundamento das técnicas, as posturas do corpo são os fundamentos dos movimentos da espada.
Geralmente, o essencial esta em baixo e o detalhe na superfície: isto consiste em vencer sempre. Mas quando o detalhe está em baixo e o essencial na superfície, a vitória se consegue por acaso. É então necessário aperfeiçoar-se no essencial e adestrar o detalhe.
Existem duas maneiras para superar o adversário: em TAI e em YU. O primeiro, em TAI, consiste em manter a mesma postura sem mudanças e atacar; o segundo em YU, consiste em mudar a postura segundo a situação e atacar rapidamente quando surgir o momento oportuno.
ITOSAI diz: “quando se precede o adversário em TAI, deve-se atacar partindo de uma postura constante, e para a defesa reage-se segundo a situação, com o objetivo de contrastar a tática do adversário.
Garantindo-se na defesa, ataca-se frontalmente. Neste caso, a tática é essencial e as técnicas secundárias. Quando se precede o adversário em YU, ataca-se com posturas variadas, mas deve se defender com uma postura constante, com o objetivo de destruir a defesa do adversário e contrastar as técnicas. Desta forma o ataque deve ser efetuado de uma distância longa. Neste caso, a técnica é essencial e a tática se torna secundária. Se, a propósito do ataque e da defesa, não se discerne nas técnicas e as razões de TAI e YU e se esforça para ganhar de qualquer jeito, estarás se comportando como se estivesse oferecendo a garganta ao adversário. É obvio que ocorre desenvolver a destreza.”
ITOSAI diz: “chamo técnica do papagaio aquela que consiste em apropriar-se das técnicas que o adversário quer utilizar. Quando o adversário ataca com força, responde-se com força, quando ataca devagar, responde-se devagar, quando ataca se bloqueia o ataque, quando ele está para bloquear se desvia o próprio ataque. Neste modo escolhe-se a própria tática seguindo a do adversário. Quando o adversário ataca com um espírito ausente de fingimento, se responde frontalmente, e quando o adversário finge distração, se reage com uma finta, quando o adversário demonstra fraqueza mesmo sendo dotado de grande capacidade, se faz a mesma coisa. Às vezes demonstra-se fraqueza escondendo a própria verdadeira força, às vezes ataca-se fazendo parecer que o próprio ataque seja uma finta, às vezes se comete um erro absurdo com a finalidade de fazer outra coisa. “O combate é o caminho do engano”, como diz justamente SUN TSU.”
O combate se desenvolve seguindo as regras da natureza, é necessário conformar-se com estas razões e adversários, como nós, eles reagem segundo as próprias capacidades. A regra, no combate, não é da espontaneidade sem adestramento. A espontaneidade deve ser acrescida do adestramento até um nível que espontaneamente, na vida de todos os dias, comportando-se conforme as regras da natureza.