terça-feira, 10 de julho de 2012

Dedicado à memória do O-Sensei Takashi Shimo (*18/09/52-07/05/93+)




EXPLICAÇÕES

            A capacidade de uma classe de alunos em aprender depende muito da forma como o professor apresenta a instrução. Por isso, o professor deve estar consciente do que explica e de como o faz. Os seguintes pontos podem clarear esse objetivo:
a) Se tiver dúvidas, escreva-as. Quando o professor tem pouca experiência será proveitoso escrever o que pretende explicar. Talvez não chegue a utilizar o que escreveu, mas servirá para esclarecer as suas idéias;
b) Ser breve ao falar e observar para que não falte nenhum ponto. Não esquecer que os alunos querem fazer caratê e não ouvir um discurso;
c) Ser conciso. O professor deve conhecer a fundo as teorias relacionadas com qualquer técnica que pretenda ensinar. A confiança dos alunos no professor aumentará enormemente se ele der a impressão de que conhece a matéria a fundo;
d) Mudar o enfoque. Se os alunos não entendem uma forma de instrução, o professor deve ter a capacidade de mudar as palavras, mudar o método, usar outra forma de instrução e é aí que o conhecimento amplo de outras matérias pode ser útil. O professor deve supor que é sua culpa se os alunos ou um aluno não entendeu suas explicações. Talvez não seja assim, mas é uma hipótese mais segura e realista. Portanto, deve modificar a forma de instrução até conseguir que o entendam;
e) Não ser irrelevante. Quando se ensina uma técnica, deve-se ser objetivo e ir direto ao ponto. As informações acessórias podem ser interessantes em determinadas circunstâncias, porém durante o período de aprendizagem de uma técnica, na qual é necessária uma concentração plena, isso pode distrair e provocar confusão;
f) Não pensar que os alunos já sabem algo determinado. Se os alunos são sempre os mesmos isso pode acontecer. No entanto, sempre há algum aluno novo, especialmente em academias ou até pode ocorrer de ter que dar aula a um grupo novo como em cursos, ou ministrar aula para uma turma que foi orientada por outro professor. Assim, explique sempre o que pretende e onde quer chegar;
g) Sempre que possível utilizar o enfoque positivo na instrução e reduzir ao mínimo o negativo. É preferível o uso do “certo” do que o “errado”. Uma das falhas dos métodos antigos era que falavam muito “está errado”. Nesse contexto, o aluno estava tão preocupado com o errado que acabava se esquecendo do certo;
h) Incentivar a todos é importante. De um ponto de vista psicológico se deve  incentivar os alunos em seus esforços. É necessário fazer correções, o que implica dizer-lhe que está fazendo algo que não é correto, porém aí o professor deverá estar junto do aluno até que acerte e mereça um elogio. Não serve para nada dizer que está errado e ir embora.

2. UTILIZAÇÃO DA VOZ

            A forma como se diz as palavras são tão importante quanto o significado das mesmas.

a) O professor deve se assegurar de que os alunos estão escutando antes de começar a falar. Para estar seguro que isso ocorra é conveniente usar algum tipo de recurso auditivo, por exemplo: palmas ou um apito que indique aos alunos que devem interromper o que estão fazendo e escutar. Evitar falar aos alunos enquanto estão trabalhando, pois não vão escutar ou  irá interromper a sua concentração;
b) Colocar os alunos em uma posição em que todos possam ouvir facilmente. Isto significa que devem estar todos em frente do professor, não em círculo, senão aqueles que estão as suas costas terão dificuldade em entender o que está dizendo;
c) Falar alto e claro: procure não murmurar. A experiência ajudará nesse aspecto. O professor dirá o que quer dizer de forma clara e lenta com o mínimo de interrupções;
d) Introduzir variedade no ritmo e tom de voz. Não vacilar em dar um grito ocasionalmente, e especialmente se os alunos diminuirem o ritmo do treino. O professor pode até baixar a voz como num sussurro para obter efeitos positivos, pois os ouvidos se aguçam e aumenta a atenção. Lembrar que uma voz de tom uniforme é normalmente uma voz monótona, e uma voz monótona produz cansaço e com o cansaço vem a falta de atenção e o esforço diminui. Convém saber utilizar a voz para manter a classe desperta e ativa;
e) Falar sempre de algum lugar estabelecido do Dojô. O professor deve estar sempre em movimento para dirigir-se a todos pelo menos uma vez, porém deve sempre voltar à mesma posição quando introduzir um novo ponto. Assim, quando os alunos ouvirem o sinal saberão imediatamente onde olhar para escutar.

OBSERVAÇÃO:
            A habilidade de um professor/instrutor para ver o que ocorre durante um ataque simulado ou real tem uma importância fundamental. A experiência adquirida nessa observação determina o tipo de técnica que está ensinando e se ela vai ser eficiente ou não. No caso de aula coletiva é bom lembrar os seguintes pontos:
a) Comprovar a intervalos freqüentes se o ritmo de ensino é muito lento ou muito rápido para os alunos, e se eles estão assimilando o fluxo de informações. O professor deve sentir o ambiente da aula e ser capaz de fazer adaptações imediatas em seu plano de aula dependendo dos alunos e das ocasiões que se apresentarem. Essa habilidade será mais importante quando o professor trabalha com grupos distintos, por exemplo: mulheres, crianças e pessoas idosas, pois cada grupo necessita de um ritmo diferente e o professor tem de ser capaz de dá-lo;

b) O ritmo de aprendizagem de cada individuo é diferente. Alguns captam rápido e querem ir em frente, enquanto outros “a duras penas” conseguem acompanhar. Esse é um problema difícil e geralmente o professor tem que ajustar a sua aula para os mais lentos. No entanto, não ao mais lento, pois esse deve ser colocado a parte para uma instrução individual suplementar que deve ser feito com o máximo cuidado, pois ninguém gosta de ficar de lado. O mesmo problema acontece com os mais adiantados e a estes também se deve dar objetivos adicionais que exijam maior esforço e coordenação;

c) Quando um professor olha para uma determinada dupla, geralmente se concentra nos erros dos movimentos de um dos dois para poder sugerir maneiras de poder eliminar as falhas. No entanto, não deve esquecer que os erros podem ser devidos a uma razão diferente da possível incapacidade do aluno em executar o movimento corretamente. Por exemplo: pode ser culpa do oponente, pois se o oponente é muito grande ou muito pequeno ou tem uma reação errada, qualquer dessas suposições inutilizará o movimento ofensivo do outro. O professor deve decidir do que se trata e se é preciso mudar a dupla.
Em um treinamento de alto nível, por exemplo, de competidores internacionais, a incapacidade para executar de forma satisfatória o treinamento pode ser por causa de fatores emocionais (problemas familiares, financeiros, etc.) O treinador deverá interessar-se pelos problemas das pessoas que estão aos seus cuidados para poder compreendê-los e ajudá-los em determinadas circunstâncias. Também o enfoque da instrução tem que ser diferente em cada região para adaptar-se às pessoas de cada lugar. O sulista é diferente do nordestino, que por sua vez é diferente dos moradores do centro-oeste. Então, para conseguir o máximo de cada um é preciso compreendê-los e analisá-los.

3. IMAGINAÇÃO

  O caratê contribui para a Educação Geral, e um dos objetivos principais da educação é estimular a imaginação do indivíduo.
    O método da Reflexão (Gestalt), já comentado, no qual o princípio é não induzir o aluno a determinados movimentos, e sim fazer que ele deduza qual é o melhor caminho.
    Uma das principais vantagens desse método é provavelmente sua capacidade para satisfazer simultaneamente a vários níveis distintos. Nos curso de caratê é sempre um grande problema a diferença de nível técnico, por exemplo: de segundo dan a sexto kyu. Como ensinar a um grupo tão heterogêneo? Se se dirigem instruções aos graus superiores, os inferiores ficam prejudicados, da mesma forma, quando se ensina aos faixas brancas os pretas ficam desmotivados. Desta forma, um plano de ensino bem imaginativo pode satisfazer a todos, pois cada um resolverá o problema segundo as suas experiências. Tudo o que o professor deve fazer é controlar o desenvolvimento resultante.





4. CONCLUSÃO

  Essas regras, como todas as de condutas, devem ser assimiladas. Há uma história ZEN que diz: “o peixe é bom para você, porém não é bom enquanto está no prato ou na boca, nem quando está no estômago, mas somente quando deixa de ser alimento e é absorvido pelo sistema digestivo, aí é bom para você”. Qualquer outro caso nesse aspecto que somente quando for absorvido completamente pode produzir um beneficio real.
    O professor de caratê deve tentar se ver como parte de um sistema geral da educação. Sua obrigação não consiste unicamente em fazer karatecas melhores, mesmo que isso seja uma parte essencial de seu trabalho, mas também em tratar de melhorá-los como cidadãos, ampliando seus campos de interesse e aumentando seus conhecimentos em todo o tipo de disciplina que os ajudará a serem pessoas mais felizes e completas.
      O caratê é uma atividade muito simples, portanto, deve-se tomar cuidado com os mestres que tem comportamentos dúbios e místicos, que às vezes se improvisam como tais em respostas a uma questão psicológica típica dos ocidentais.
      Por causa da diversidade de estilos, o panorama do caratê no mundo em geral é confuso e contraditório.  Esta contradição também foi exportada do Japão para os vários países Ocidentais, mas é conveniente não aceitar as coisas sem antes fazer uma filtragem com os parâmetros ocidentais. Podem ser perigosos e alienantes! Evite os dogmas!
    Ao considerar os vários estilos de caratê, verifica-se que, bem feito, todos os estilos são bons. Faça um caratê aberto a todas as experiências técnicas. Evite ficar ligado tecnicamente a um só mestre. Procure mais informações. Talvez assim caiam as barreiras que hoje dividem o caratê.  Essas divisões no passado eram de ordem técnica e filosófica, mas muitas vezes tinham conotações político-financeiras que infelizmente tiravam o brilho dessa arte maravilhosa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

q BRITO, Ap e Montalverne, J e CARVALHO, J e GRAVATA, C e CÁRMINO, Estudo comparativo dos perfis psicológicos de fundistas, velocistas e triatlonistas. Ministério da Educação, Tip. Minerva do Comércio, Lisboa, 1191.
q GRATTY, Briant: trad. por Oliva Lustosa Bergier. Psicologia do Esporte, RJ: Prentice-Hall do Brasil, 1984.
q GLEESON, G. R. – Judô para Ocidentales – Editorial Hispano Europea, Bori y Fontestá, 6 – 8 Barcelona – 6 Espanã.
q HARRIS, D. Por que practicamos deporte? BARCELO, Ed. Jims, 1980.
q LAWTER, J.D. Psicologia del esporte y del deportista. Buenos Aires, Ed. Padões, 1978.
q SINGER, R. Psicologia dos Esportes. São Paulo, Jhanper do Barsil, 1978.
q ASCHIERI, Pierluigi. Progetto “Sport a Scuola”, FILPJK, Roma, 2.000.