segunda-feira, 17 de outubro de 2011

KARATÊ-DO MARCIAL (BU-DO), E KARATÊ-DO ESPORTIVO

KARATÊ-DO MARCIAL (BU-DO), E  KARATÊ-DO ESPORTIVO

            A palavra BU é composta de dois ideogramas (kanjin). Onde o primeiro ideograma significa PARAR o segundo significa LANÇA, juntos, podem significar interromper o combate. Isso é, quebrar a lança do agressor ou parar a sua lança, desta forma não haverá combate. Como os antigos romanos diziam “SE VIS PACEM PARABELLUM”, SE QUERES A PAZ ARME-SE.
            O BUDO é uma disciplina que reúne técnicas práticas de combate (BU), e uma modalidade de existência (DO). A noção de BU vem geralmente traduzida como guerreiro, militar, arte marcial... e  DO como caminho das virtudes, senda, disciplina...
A assimilação do karatê-budo, nos países ocidentais, fez com que o karatê fosse entendido muito parcialmente, mesmo que, muitos filosofem a respeito e conversem sobre a atitude que um Karateca deveria demonstrar.
            O karatê, visto como Budo, tem uma dimensão espiritual e o karatê esportivo tem uma dimensão material, levado para o espetáculo, sendo que, o resultado das competições esportivas é determinado, independentemente do desenvolvimento da luta, da diferença do total dos pontos ganhos por um atleta. Que o resultado seja de 10 a 09, ou de 08 a 01, o vencedor será aquele que totalizou mais pontos, mesmo que seja um único ponto de diferença antes do término do tempo. Isso significa que, marcando novos pontos é possível consertar os erros cometidos no decorrer do combate, recuperando-se do revés.
            No karate marcial (defesa pessoal) se requer uma atitude fundamentalmente diferente com relação aos erros cometidos no combate. Uma vez perdido um olho no combate, este não se recupera mais. Ainda mais que, o que importa é a confiança absoluta. O objetivo é não perder e também não se ferir, pois não valeria nada ter vencido e encontrar-se gravemente ferido. Dessa forma, o objetivo fundamental é salvaguardar a si mesmo.
            No karate esportivo, a finalidade é vencer, totalizando um número maior de pontos, mesmo que, o adversário marque o primeiro ponto, pode-se ainda vencer se conseguir marcar um ponto a mais antes da conclusão do combate. Dessa forma, seria muito difícil vencer, pensando na defesa, pois para vencer o oponente é necessário atacar. Assim, o princípio dos treinamentos é direcionado para se marcar o maior número de pontos. Consequentemente, há uma tendência em descuidar no treinamento, as técnicas que não se utilizam no karatê esportivo. Ademais, visto que se marcam os pontos reconhecidos pelos árbitros, acaba-se aperfeiçoando, sobre tudo, as técnicas reconhecidas pelo regulamento de arbitragem e a eficácia real é limitada na utilização de técnicas visíveis para eles.
            Ao contrário, no karate marcial não existe árbitro, com isso, nem sempre se precisa fazer uso de técnicas visíveis, pois não existem regras que limitam a ação. Na prática, presume-se que todos os ataques de um agressor possam produzir lesões graves ou mortais. Então, no treinamento é necessário dar a máxima importância à defesa, uma vez que, as técnicas de ataque nem sempre tem uma importância determinante, pois não existem punições que podem levar o agressor a ser desclassificado, como ocorre no karate esportivo. Os ataques aos pontos vitais e de conseqüência as DEFESAS destes pontos, são essenciais durante o treinamento.
            No karate esportivo, junto as regras que penalizam o atleta infrator e os atos proibidos, existem numerosas técnicas consideradas proibidas (ataques as virilhas, aos joelhos, olhos, garganta, etc.). Consequentemente, estas técnicas não são utilizadas e se o fizer será punido, então não servem para marcar pontos. Estas técnicas são excluídas dos treinamentos, e é muito provável que sejam ignoradas pela maior parte dos karatecas esportivos, como meio de defesa.
            Ao contrário, no karate marcial não existe desclassificação. Todas as partes do corpo podem ser objetos de ataques, por isso, no treinamento é importante incluir sua proteção, que pode ser obtida através das técnicas de defesa ou bloqueio. Na prática do treinamento do karatê, entendido como defesa pessoal, deve-se partir sempre do princípio de que todos os ataques de um agressor podem ser mortais e consequentemente, as técnicas defensivas são de importância absoluta.
            Ao mesmo tempo, as técnicas de ataque que não aprendemos com a intenção de matar, devem ser a tal ponto, eficazes que, se for necessário, poderiam ser utilizadas para isso.
            O Karatê é como uma espada (kataná), esteticamente pode ser muito bonita, mas se não cortar, é de pouco valor.  

Por Aldo Lubes

Referência: TOKITSU Kenji, Lo zen e La via del Karate – Per uma teoria delle arti marziali, Sugarco Edizioni.1979.

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