quinta-feira, 15 de março de 2012

1- MÉTODOS.

Dedicado à memória do O-Sensei Takashi Shimo (*18/09/52-07/05/93+)



1. MÉTODOS  DE ENSINO E TÉCNICAS DE TREINAMENTO NA APRENDIZAGEM DO KARATÊ

  O primeiro trabalho de um professor de karatê é aprender como apresentar seus conhecimentos a seus alunos da melhor forma possível, pois deve haver sempre um método de ensino definido no qual o professor tenha confiança. 
  A confiança se desenvolve com o saber, mas  o conhecimento deve ser geral e de forma que abranja a todas as coisas. 
  Se uma pessoa se propõe a ensinar, deve primeiramente aprender as metodologias de ensino e como aplicá-las conscientemente, pois estas lhe serão de muita utilidade, e o ajudarão nas dificuldades que poderão aparecer na primeira vez em que se encontrar diante de uma classe de alunos. Gradualmente: a experiência, a aplicação de conhecimentos e a imaginação farão com que o instrutor construa seus próprios métodos, porém até que chegue a esse estágio, o que se segue pode ter utilidade.
  Daremos uma rápida vista no processo de aprendizagem, pois dar uma relação completa dos argumentos das diferentes escolas psicológicas, as quais pretendem explicar o que é aprender, seria um objetivo muito ambicioso. Por isso, será feita uma breve descrição das duas principais escolas ou correntes, que por razão de utilidade são de aplicação mais conveniente ao ensino do caratê e do movimento técnico, sendo denominadas PERCEPÇÃO A POSTERIORI E REFLEXÃO.
  A Percepção a Posteriori (Automatista) trata do tipo de aprendizagem baseada no processo de prova e erro (errando se aprende). Enquanto que, Reflexão  (Gestalt) trata de aprendizagem por meio da aplicação do conhecimento e da experiência a um problema específico.
  O ensino e a aprendizagem existem desde o nascimento do homem, mas somente no começo deste século (1900) é que se começou a fazer um esforço maior e consciente para descobrir exatamente suas implicações. 
  Grandes expoentes da escola Automatista são Pavlov com suas experiências com cachorros e Thorndike com gatos, cujas teorias sobre aprendizagem exerceram por muitos anos uma grande influência sobre os métodos de ensino.
  Os resultados das experiências com gatos e cachorros induziram a postular que: os animais aprendiam com tentativas e através da repetição diminuíam os erros, não importando em absoluto a reflexão e nem a compreensão inteligente do problema global.
  Na década de 1920 desenvolveu-se uma oposição a essas idéias. Um dos opositores foi Wolfgang Kõhler que juntamente com outros fundou a escola Gestalt (em alemão, forma ou modelo).
Kõhler afirma que Thorndike conseguiu dos seus gatos os resultados que obteve porque os colocou em uma situação antinatural (afirmava que um homem teria agido da mesma forma). Mas se tivessem sido colocados problemas dentro da sua capacidade mental mostrariam algum tipo de reflexão. “Coloque um problema que um animal possa ver no seu conjunto e ele o resolverá com relativa facilidade e rapidez”.

1. Um exemplo das experiências utilizadas por Thorndike é a seguinte:
  Colocou-se alguns gatos em jaulas com comidas no exterior; ao encontrar e empurrar uma alavanca os gatos puderam abrir uma porta e alcançar a comida. Registrou-se o número de repetições necessárias antes que os gatos se dirigissem diretamente para a alavanca.

2. Um exemplo das experiências de Kõhler é a seguinte:
  Colocou-se um chimpanzé dentro de uma jaula com algumas canas de bambu e caixotes. A comida foi colocada no teto, fora do alcance. O chimpanzé encontrou rapidamente a forma de empilhar as caixas e usar as canas de bambu para alcançar a comida.

  A Percepção a Posteriori e Reflexão são igualmente importantes, mas quando o problema global é percebido na sua totalidade se produz uma reflexão e o problema pode ser resolvido com uma maior facilidade. Na atualidade, a denominação dada para a Teoria da Reflexão é Método “Sintético-Analítico-Sintético ou Global-Parte-Global” e para Teoria da Percepção a Posteriori é “Analítico-Sintético” ou “Parte-Global”.
  Resultados experimentais afirmam que o método “Global-Parte-Global” é o melhor para iniciantes e o método “Parte Global” é melhor para os alunos mais avançados.
  Muitos professores de bom nível técnico, mas que chegaram a esse nível a “duras penas” com muita prática e pouca teoria, usam o método “Parte-Global” com os  alunos iniciantes, decompondo um golpe ou uma técnica em várias partes distintas e ensinando ao principiante cada uma das partes, por exemplo: aonde por o pé direito e o esquerdo; aonde deve ser colocada cada mão; como fazer um passo nas posições de caratê; etc. 
Quando o aluno “dominar” todas as partes, permitem-lhe que experimente o movimento global. Raríssimas vezes mostram o movimento ou a técnica com a sua finalidade, pois o próprio instrutor demonstra unicamente uma parte de cada vez. 
Desse modo, o principiante não tem idéia de que aspecto tem o produto final, e o resultado é uma progressão técnica muito pobre, havendo trancos de movimentos a outros movimentos, tão ineficazes como feios. Por isso, essa forma de ensino é mais apropriada para alunos ou atletas que têm uma visão final do objetivo.
  O método “Global-Parte-Global” consiste  em deixar o principiante executar o movimento Global de uma técnica, tratando de imitar o instrutor que demonstrou o movimento “global”, sendo que aqui o instrutor deve ser um bom executante porque a imagem do movimento técnico vai ficar gravada na memória do aluno.
Não importa que o resultado seja pobre quando se consegue fazer “sentir” o movimento da técnica em maior ou menor grau. Partindo desse ponto então o professor separa as partes que acha que podem ser melhoradas e então retorna a colocá-las no movimento global, antes que o global se perca de vista. O movimento global está presente na mente a todo o momento, não se pode deixar que nenhuma “parte” concreta assuma um papel dominante no desenvolvimento. Alem disso, deve-se motivar cada pessoa que trata de realizar o global a sua própria maneira, conforme o seu biótipo. Alem disso, a expressão da sua personalidade (criatividade) se considera mais interessante que qualquer característica imposta arbitrariamente por um instrutor.

Concluindo:
1. Para os alunos iniciantes é aconselhável o método Global-Parte-Global (Reflexão).
2. Para os avançados é melhor o método Parte-Global (Percepção a Posteriori).


Próxima postagem - 2- Oque é Técnica.
OSS
Aldo Lubes - Sensei

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