terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Yagyu Munenori (1ª. parte)


Yagyu Munenori (1571-1646) se tornou o mestre de esgrima de uma família de Shogun e conseqüentemente adquiriu um importante poder político. Teve uma grande influência política e cultural sobre o terceiro Shogun Iemitsu (Shogunato de 1623-1651). O seu cargo foi transmitido aos seus descendentes, os quais se tornaram senhores feudais (no Império japonês, o Shogun detinha o poder efetivo e o imperador tinha um poder simbólico).
                   Transcrevo algumas citações do pensamento de Yagyu sobre a arte da espada:
“Quando se fazem treinos suficientes em todos os campos da luta, chega-se a mover as mãos, os pés, o corpo sem movimentar o espírito e sem pensar no treinamento; consegue-se incorporar o resultado de tudo livremente. Nesse estágio não se sabe onde está o espírito e tampouco os demônios tem a possibilidade de adivinhar o movimento do espírito. Todo o treinamento é feito com a finalidade de chegar a esse estagio. O que é mais importante, deve-se desenvolver destreza em tudo para esquecer o treinamento, e esquecendo tudo, age-se no modo mais apropriado, sem pensamento ou reflexão. Quando utilizo uma tática (finta) e o adversário não percebe que é uma finta, eu o golpeio e venço, mas se ele percebe que é uma finta eu uso uma outra. Nesse caso, venço o adversário fazendo com que a finta se torne o golpe verdadeiro.Quando um erro superficial age como uma abertura para alcançar a verdade, o mesmo erro se torna a verdade: este é um conceito contido na doutrina budista”.

A atitude de KEN e TAI (KEN = atacar, iniciar. TAI=esperar).

No inicio do combate se prepara com concentração em dar duros ataques e se procura golpear antes do adversário. Essa atitude é chamada de ken. Ao esperar sem atacar por primeiro, a essa atitude define-se de tai. Isso comporta uma prudência adquirida. No combate é necessário saber a diferença entre ken e tai. Entre o corpo e a espada existem importantíssimas relações de ken e tai. Você se aproxima do adversário com o corpo em estado de ken, mas se segura a espada em estado de tai, e, provocando-o com o corpo, os pés, as mãos. É necessário atacar primeiro e provocar o adversário para depois vencer. Essa era uma característica da escola da família Yagyu em prevalecer sobre o adversário, deixando que este ataque primeiro.
         Partindo desse ponto de vista, Munenori escreve:

Nas inúmeras variedades de táticas as fundamentais não são muitas, mas as principais são:
1)    Vencer quem não ataca, mas provocando o seu ataque; se vence no momento em que se ataca;
2)    Vencer no momento em que o adversário ataca;
3)    Para aqueles que conhecem a primeira técnica, mostrar um próprio momento de vazio e, ao seu ataque, vencer no momento que golpeia.

         Para Munenori existiam somente estas três técnicas. Segundo ele, esse momento de vulnerabilidade aparece fundamentalmente quando o adversário ataca. Aplicando-se ao Karate essa orientação, encontraremos três técnicas, que são as seguintes:

a)    Encontrar o momento de vulnerabilidade do adversário no instante em que ele lança o ataque. No karatê isso se designa com a palavra DE-AI. Uma forma de golpe de encontro, que acontece no instante de vazio, quando o adversário inicia o movimento.
b)    Quando o adversário não ataca, provoca-se o seu ataque fingindo de atacar, ou modificando a distância e o ritmo. Induz-se assim o adversário a se mexer, e se vence recolhendo o momento de vazio que aparece no início do movimento.
c)    Demonstrar ao adversário um próprio momento de vulnerabilidade e, quando ele ataca, golpeia-o.


         No karatê o bloqueio ou a esquiva não devem ser concebidos como uma simples defesa, mas como um meio para criar um momento de vulnerabilidade no curso de um ataque do adversário.

Próxima postagem (2ª. parte)... Mais pensamentos do Yagyu Munenori.

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